Especialistas Apontam Falhas na Polícia e Condenam Justiça Popular Após Incidentes Violentos em Bobole
Os tumultos registados em Bobole, província de Maputo, continuam a gerar forte debate público. Especialistas nas áreas de sociologia, direito e criminologia apontam a má coordenação, formação deficiente e falta de contenção como causas centrais da tragédia que resultou na morte de dois cidadãos — um civil, vítima de disparos, e um agente da PRM, linchado por populares.
Em análises feitas nos programas televisivos Hora e Meia e Noite Informativa, o jurista Alberto Langa, o sociólogo Samuel Quive e o criminalista Sandro de Sousa consideraram o episódio um reflexo de fragilidades profundas na actuação policial.
Langa questionou a razão da perseguição policial que antecedeu o incidente, explicando que a viatura visada havia sido autorizada a seguir viagem pela Polícia de Trânsito, o que, no seu entender, torna injustificável a acção subsequente por parte de outros agentes da PRM. Uma visão partilhada por Sandro de Sousa, que também criticou o que descreve como uma formação insuficiente dos agentes.
Para De Sousa, a preparação dos membros da corporação é “curta e superficial”, defendendo que o processo de formação policial deveria ser alargado para, pelo menos, um ano e meio, com enfoque no respeito pelos direitos humanos e gestão de conflitos.
O sociólogo Samuel Quive, por sua vez, lamentou os excessos cometidos por alguns agentes da PRM, sublinhando que esses comportamentos comprometem a já frágil relação entre a polícia e os cidadãos. “A actuação violenta mina a confiança do público e alimenta sentimentos de revolta e desconfiança”, alertou.
Todos os intervenientes convergiram na necessidade urgente de reformas dentro da Polícia da República de Moçambique, incluindo acções de reciclagem contínua para os agentes no activo. Também condenaram com firmeza o recurso à justiça popular, alertando para os perigos de um Estado onde os cidadãos tomam a lei nas próprias mãos.
“É fundamental garantir que a PRM actue com base em princípios de legalidade e respeito pela vida humana, mas também é crucial que a população confie nas instituições e recorra a elas, em vez de promover linchamentos”, concluíram.
O caso de Bobole reacende o debate sobre a necessidade de uma reforma profunda no sector da segurança pública, com apelos crescentes à humanização da actuação policial e ao fortalecimento do Estado de Direito. LEIA MAIS